Aluna do doutorado da URI faz intercâmbio na Espanha

Com o apoio do PPGEDU, Vanessa Dal Canton ficou quatro meses morando no exterior

Frederico Westphalen
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Adriana Folle
12/05/2025

Por intermédio do Programa Institucional de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE/CAPES), através de edital divulgado e viabilizado pelo Programa de Mobilidade Internacional da Reitoria, via Programa de Pós-Graduação em Educação PPGEDU da URI/FW, a aluna do doutorado, Vanessa Dal Canton, realizou intercâmbio em Salamanca, Espanha, na Universidad Pontificia de Salamanca UPSA, de setembro de 2024 a janeiro de 2025.


O edital previa o acompanhamento de um professor do exterior para o plano de trabalho que seria desenvolvido, assim, por já conhecer o doutor Fernando González Alonso da UPSA, Vanessa escolheu Salamanca. O docente já esteve na URI ministrando disciplinas no mestrado e doutorado, como professor visitante, e ambas as universidades (URI e UPSA) integram a Rede Internacional de Investigação em Direito Educativo  (RIIDE), pela qual há um grupo de pesquisa que Vanessa faz parte, junto com a doutora Luci Mary Duso Pacheco, sua orientadora.


A intercambista já tinha vivido outra experiência na França, onde esteve em 2020, ano que fazia mestrado e desenvolvia pesquisa com as Casas Familiares Rurais. “Mesmo que por poucos dias, percebi o quanto as saídas do nosso país possibilitam mudanças na nossa vida e nas nossas pesquisas, essencialmente porque sair do nosso meio faz desacomodar em todos os sentidos e nos abre a visão para um horizonte de possibilidades muito maior. Quando vi o edital de bolsa para o doutorado sanduíche, pensei logo na oportunidade de crescimento e aprendizado que isso me traria, também porque já estava acompanhando a experiência de outros dois colegas do PPGEDU, fora do país”, frisa.


A pesquisa da doutoranda se deteve a conhecer o sistema educativo espanhol e em especial a realidade das escolas do campo de Salamanca. “Lá realizei entrevistas e visitas a instituições que me mostraram a realidade educativa daquele contexto. Além disso, os quatro meses me mostraram elementos culturais, costumes e tradições que tornam a teoria mais significativa, ou seja, ao realizar pesquisa de campo, temos a oportunidade de revalidar e reflexionar sobre as teorias que estudamos. Com esses dados, sigo a pesquisa aqui no Brasil, a partir de um estudo comparativo que envolve a educação do campo e a sociedade”, salienta.

 

Cultura

Os espanhóis começam suas atividades mais tarde e almoçam entre às 14 horas e 15 horas. Fazem muitas refeições na rua após o trabalho. A comida dos bares (o que para os brasileiros seria um lanchinho ou um petisco) acompanhado de uma taça de vinho ou uma cerveja é tradicional antes de chegar em casa para as refeições principais junto da família. Nesse horário do almoço o comércio permanece fechado e só abre às 17 horas, quando então as pessoas saem de suas casas e vão para as ruas, o que significa que o pico de movimento nas praças e ruas ocorre por volta das 19 horas. A janta também acontece mais tarde, depois das 21 horas.


Nos bares, para acompanhar os tradicionais vinhos e cervejas, são servidas porções pequenas de comida, chamadas de “pinchos” ou “tostas”, dentre elas, a tradicional “tortilla de patatas”. Nas refeições principais, em restaurantes, são servidos pratos variados que seguem a ordem da entrada ou salada, prato principal, sobremesa ou café, acompanhados por pães. A carne suína e seus derivados são muito apreciados, diferente da carne bovina. Dentre os derivados de suíno se destaca o “jamón” (presunto), uma preciosidade feita de forma artesanal a partir de animais criados soltos, que são alimentados por “bellotas” (frutos de uma árvore típica dos campos). A carne fica maturando por meses até ir para os supermercados ou ser servidas nos bares e restaurantes cortada em fatias muito finas. Frutos do mar e peixes, além de uma rica variedade de legumes também acompanham os pratos principais e a batata frita que nunca pode faltar.

 

A estadia

Durante os quatro meses Vanessa morou em um apartamento dividindo espaços comuns (cozinha, área de serviço e sala) com um casal da Alemanha que também havia alugado um dos quartos. “É muito comum na Europa as pessoas, totalmente desconhecidas dividirem lugares para morar, cada um aluga o seu quarto e banheiro ou só o quarto quando o banheiro é compartilhado e divide áreas comuns. Chamam o apartamento (o que é conhecido por nós) de “piso” e o quarto de “habitación”. A bolsa do doutorado sanduiche previa um valor para o aluguel”, conta.

 

Desafios

Inicialmente, a dificuldade de Vanessa foi voltada à adaptação aos horários e à nova rotina. “O fuso horário marcava 5 horas de diferença do Brasil quando cheguei, depois, quando iniciou o inverno reduziu para 4 horas (para mais). As questões culturais de modo geral são sempre desafiadoras, pois quando não estamos em casa, precisamos nos adaptar e aprender com o novo”, relata.

 

Avaliação

– Estar na Espanha por quatro meses significou o maior alargamento de horizontes que eu pude viver até agora. Morar em Salamanca, em um centro tido como referência na área da educação me inspirou intelectualmente, me trouxe referências de conhecimento, pesquisa e cultura letrada, me oportunizou aprender e praticar um novo idioma e ampliar o universo temático da pesquisa acadêmica, percebendo as diversas possibilidades que temos ao se conectar com outras culturas – justifica. 

 

A importância da URI

Segundo Vanessa, a URI foi fundamental para o intercâmbio. “Meu vínculo com o PPGEDU, sendo aluna do doutorado, oportunizou que eu acessasse o edital. Além disso, contei com todo o apoio necessário do Programa de Pós-Graduação, da minha orientadora, da direção do Câmpus e da direção da Escola que oportunizou uma reorganização nas aulas que eu ministrava para que o intercâmbio pudesse acontecer”, explica.

 

Aprendizado

Vanessa descreve mais sobre a experiência. “Um grande aprendizado que pode ser compartilhado, é que vivi em um lugar com regras claras e bem estabelecidas, o que fazia perceber logo a organização da sociedade e o respeito entre as pessoas. Isso se percebia no sistema de trânsito, no recolhimento do lixo, no cumprimento de horários, nos supermercados, etc. Sinto que naturalizamos processos e discursos em que “o certo é fazer errado”, ou ainda, aquele famoso “jeitinho”. Lá vivi experiências completamente diferentes em que não percebia essa cultura, mas sim, uma organização e cumprimento das normas. Isso não é sinônimo da ausência de problemas, mas sim, de uma sociedade mais organizada e que valoriza muito mais a educação”, destaca.


Ainda sobre a vivência, a doutoranda acrescenta que não pode falar em lugar pior ou melhor para viver, ambos os países têm aspectos positivos e outros que ainda poderiam ser melhor desenvolvidos. “Temos que considerar a origem de cada lugar e os fatores que influenciam cada uma das realidades antes de qualquer julgamento”, enaltece a intercambista.


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