VLibras

''Há muitas falácias sobre a literatura'': Veja a entrevista com o Professor espanhol Elias Feijó

Professor da Universidade de Santiago de Compostela ministra curso na URI

URI FW
Imagem Notícia

Laísa Bisol - Assessoria de Comunicação - URI/FW
12/11/2015

O professor Elias J. Torres Feijó da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, esteve na URI – câmpus de Frederico Westphalen, na última semana, a fim de ministrar um curso livre no Programa de Pós-Graduação em Letras Stricto sensu Mestrado em Letras – Literatura Comparada. O palestrante apresentou o tema “Estudos da Literatura e investigações na Cultura”.


Na oportunidade, o professor Elias Feijó concedeu uma entrevista à Assessoria de Comunicação da URI e também aos jornais do município. Confira:


Qual a sua percepção acerca dos estudos literários em consonância com a investigação cultural?


Elias Feijó - Existem palavras-chave que devem estar presentes: avançar, inovar e produzir novos conhecimentos. Temos que nos perguntar se na atualidade e nos estudos que fazemos estamos produzindo novo conhecimento, se estamos inovando em que medida esse novo conhecimento é útil e relevante para as pessoas. Os estudos literários hoje não deixam de ser uma espécie de discurso sobre o discurso. Quando falamos que uma pessoa é romântica nós estamos falando em século XIX, que foi importante e é ainda muito importante como construiu as nossas formas de ver a vida, o sentimento, o amor, etc. A literatura nas elites teve papel de forte coerção social, as pessoas estudavam nas escolas textos literários que representavam o bom, o verdadeiro, o formoso, o belo e todas as pessoas estudavam o mesmo, porque a escola existe para dar coesão social às pessoas e não para dar formação e alicerçar na comunidade.  Isso já passou e hoje existem outros fatores mais potentes, como a mídia, e nós temos que pensar as funções do texto literário, qual o papel que ainda hoje ocupa dentro de um quadro de cultura e entender que a cultura são as formas como as pessoas funcionam, os hábitos culturais. O que temos que fazer é livrar-nos da melancolia e afastar-nos do medo.


Hoje os estudos indicam que há uma diminuição de leitores, qual a sua visão sobre isso?


Elias Feijó - Há muitas falácias sobre a literatura, especialmente no Brasil. Os jovens leem, acontece que eles não leem o que nós queremos que leiam, felizmente. Um dos grandes problemas do professorado das letras que insiste tanto nas suas ideias é que querem animar a ler aquilo que eles exigem, porque é a forma de legitimar que têm um poder e reafirmar que é preciso ler, e que ler é bom, e que ler aqueles determinados textos é o bom. Que as pessoas terem o hábito de ler é fundamental porque ler é um instrumento que permite recursos, permite desenvolvimentos cognitivos. Mas ler não nos faz efetivamente melhores pessoas, isso é uma falácia. Pessoas analfabetas ou que não leem podem ser infinitamente melhores do que outras que leram muito na vida. Há bastantes mentiras construídas inconscientemente em volta da leitura. O importante é se nós somos capazes de formar pessoas que entendem o funcionamento das comunidades em termos de cultura e não tanto se leem muito ou pouco

Confira as imagens: