Psicologia Organizacional: PL prevê profissional da área em empresas com 100 funcionários ou mais

Se o projeto for aprovado, crescerá ainda mais o campo de atuação de psicólogos

Frederico Westphalen
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Isabela Vanzin da Rocha
24/04/2023

A Psicologia Organizacional e do Trabalho é uma das áreas de atuação do psicólogo e tem ênfase no comportamento humano, na gestão de pessoas e na saúde no trabalho, que deve abarcar a qualidade de vida e a equidade dos processos organizacionais, nas esferas individual, grupal e organizacional. Historicamente, surgiu para compreender o perfil socioprofissional e realizar avaliações nas empresas, mas, atualmente, uma de suas maiores contribuições sociais é a prevenção e promoção de saúde no âmbito laboral.


Considerando a importância do profissional desta área, a senadora Rose de Freitas apresentou ao Congresso, em 2022, o Projeto de Lei nº 642, que prevê a contratação de psicólogos do trabalho para empresas com 100 ou mais funcionários. O projeto, atualmente em tramitação, acrescenta à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, o Art. 168-A: “As empresas com 100 ou mais empregados, sempre que possível, deverão contratar psicólogo para atendimento de seus funcionários, como medida preventiva de Segurança e Medicina do Trabalho”.


Sobre a Psicologia Organizacional e do Trabalho

A professora e pesquisadora do curso de Psicologia da URI, Câmpus de Frederico Westphalen, Cláudia Reis Flores, que ministra a disciplina sobre o tema na universidade, explica sobre a importância da presença do psicólogo organizacional em ambientes trabalhistas, bem como os motivos pelo crescimento na demanda de tal profissional.


Segundo a docente, o atual crescimento na demanda decorre de anos de pesquisa em relação aos fatores de risco no trabalho e da importância da ética do cuidado, assim como a preocupação em aliar produtividade à saúde. “Os agravos à saúde mental têm repercutido na produtividade das empresas e gerado índices cada vez maiores de afastamentos por licença saúde, gerando custos elevados à União. Outro fator de conhecimento científico é que pessoas satisfeitas tendem a desenvolver suas atividades com maior eficiência e obter melhores resultados. Por isto, a satisfação tem relação diretamente proporcional com a saúde mental”, destaca Cláudia.


- Uma questão importante no mundo do trabalho, aliada às mudanças sociais, é o avanço das tecnologias e seus desdobramentos culturais, alinhado à aceleração e ritmo intenso para a execução das atividades. A cultura organizacional pós-moderna tem refletido novos processos produtivos e relações socioprofissionais menos humanizadas, considerando a acirrada competitividade e individualismo crescente, cujo impacto é na saúde mental. Sabe-se que a cooperação e o reconhecimento no trabalho são “fermentos” para a saúde e qualidade de vida laboral, para o enfrentamento das adversidades decorrentes do trabalho. Para tanto, a função do psicólogo do trabalho está sendo ampliada nos últimos anos para auxiliar na compreensão dos processos produtivos dos trabalhadores e dirigentes das organizações. Além de auxiliar as empresas nas avaliações psicológicas, desenvolver talentos e gestores capazes de liderar equipes, é importante salientar que as intervenções com os dirigentes e gerentes é de extrema importância para que haja desdobramentos relacionados à cultura da saúde laboral, principalmente, no que concerne às relações no trabalho éticas - frisa a professora.


Cláudia também comenta que, conforme sua experiência profissional e pesquisas realizadas, a saúde dos trabalhadores têm sido afetada pela degradação das relações socioprofissionais, como o assédio moral e organizacional, gerando patologias relacionadas ao trabalho, como o Burnout, ansiedade extrema e outros transtornos psíquicos.


Nesse sentido, o Projeto de Lei poderá ampliar a qualidade de vida de trabalhadores de todas as hierarquias organizacionais, considerando que a saúde no trabalho é gerada pelas relações de cuidado ali produzidas. “Muitas vezes, um equívoco de alguns profissionais é negligenciar os diretores das organizações, deixando de lado seu conhecimento e seu próprio sofrimento, ao longo da sua história de trabalho. Ao contrário, todos os atores institucionais das organizações são relevantes para mudanças culturais necessárias à prevenção e promoção de saúde organizacional, principalmente, para evitar tomada de decisões sem a devida compreensão sobre o impacto na saúde de todos. Gerar reflexões e construir hipóteses com os trabalhadores, como um mediador corresponsável pelos processos produtivos é a principal contribuição do psicólogo nas organizações”, complementa Cláudia.